Com forte retração na demanda, segmento em Minas Gerais já demitiu 20% dos funcionários neste ano
O setor de transporte de cargas de Minas Gerais está encolhendo diante da retração da economia nacional, especialmente da atividade industrial. Além de conviver com a baixa demanda, as transportadoras não conseguem repassar o aumento dos custos para o preço do frete sob risco de “perder o trabalho”, o que já leva algumas empresas a paralisarem as operações. O resultado são demissões, que neste ano já chegam a 20% do que o segmento empregava no mesmo período de 2014.
“Sem dúvida, quando a economia para, o transporte de cargas também para. Estamos sentindo demais a retração da economia, principalmente da indústria, e isso já vem desde o ano passado”, afirmou o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa.
Segundo ele, o momento não é favorável ao repasse do aumento de custos para o preço do frete. “Reduzir as margens de lucro é uma alternativa sim, mas é preferível ficar parado do que ter prejuízo e algumas empresas já paralisaram as operações. Difícil mensurar, mas já estão ocorrendo demissões e elas chegam a 20% do efetivo do setor”, pontuou.
Só para se ter uma ideia, de acordo com a última pesquisa da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), divulgada no fim de fevereiro, o preço do frete no país está pelo menos 14% abaixo do custo mínimo para se fazer o transporte, considerando mão de obra e combustível, especialmente.
A situação também está levando à perda de receita das empresas transportadoras. Conforme o presidente da Fetcemg, o faturamento do setor em Minas Gerais já caiu pelo menos 15% na comparação dos primeiros cinco meses deste ano contra o mesmo intervalo do exercício passado.
Tudo isso levou o setor a não só perder a capacidade de fazer aportes na renovação ou ampliação da frota, como a desinvestir. “Não tem movimento para pagar as compras de caminhões que foram feitas há dois ou três anos e vender esses veículos, o que seria uma opção para honrar os financiamentos, está muito difícil”, ressaltou.
Em função disso, Costa revelou que o setor está tentando negociar com o governo federal uma forma de aumentar o prazo de carência dos financiamentos de caminhões feitos no âmbito do Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame) do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Até agora, nada foi decidido.
“Não tenho dúvidas de que o setor está passando por um desinvestimento para se adequar ao tamanho do mercado. O governo tem que rever esta política de aumento da carga tributária e corte de investimentos. São os investimentos em infraestrutura que vão gerar trabalho, renda e fazer a economia girar”, avaliou.
Margem insuficiente – Para o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Paulo Sérgio Ribeiro, a situação crítica que o setor enfrenta se deve basicamente à queda generalizada da demanda e a incapacidade de praticar preços que permitam às empresas ter uma margem suficiente para operar sem prejuízo.
“O setor precisa repassar os custos e não está conseguindo. Ao mesmo tempo que estamos vivendo com preços (de frete) irreais, a pressão sobre os custos aumenta. As demissões já estão acontecendo e vão se agravar. As empresas estão diminuindo de tamanho e algumas estão sem condições de operar”, advertiu.
Para Ribeiro, que também é proprietário da Tora Logística Armazéns e Terminais Multimodais, sediada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o setor está à mercê da economia. “Por parte dos governos, não vejo medidas que possam ajudar o setor”, frisou.
Fonte: NTC