AMC promete nova restrição para caminhões
A cidade não para um minuto sequer. São máquinas e homens trabalhando pesado na construção civil 24 horas por dia. Erguendo novos prédios, grandes túneis, alargando avenidas, encaminhando obras que se espalham por Fortaleza às vésperas da chegada da Copa do Mundo de 2014. Nesse ritmo, a Capital vive um intenso vai-e-vem de caminhões, carretas e betoneiras, todas carregadas para abastecer a indústria da construção que vive seu momento auge. Quem sofre com tudo isso? O já congestionado e saturado trânsito.
O distribuidor de bebidas, Carlos Matos, 41, diz não aguentar mais o trânsito de Fortaleza. Circulando pela cidade, ele comenta que os caminhões têm tomado conta das avenidas. “Como há muitas obras, construção de prédios na Aldeota e no Cocó, grandes empreendimentos na Washington Soares, é muita demanda de trabalho. Toda hora circulam betoneiras bem cheias de matérias de construção”, diz.
Desafios
Percebendo os problemas que esses “indesejáveis” veículos de tração causam nas principais vias da cidade, a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), após estudos sobre os fluxos, promete, para breve, a criação de nova restrição de caminhões no trecho de 8,5 quilômetros entre a BR-116 – esquina com Rua Cinderela- , seguindo pela Raul Barbosa, tomando toda a Via Expressa até convergir com a Avenida Abolição, no Mucuripe.
Nesse disputado espaço, circulam, conforme o Diário do Nordeste já anunciou no último dia 2, aproximadamente 269 veículos pesados no intervalo de apenas duas horas, entre 17h e 19h. É justamente nessas grandes vias que se observa os intensos congestionamentos e a disputa de carros particulares, com ônibus, diversas “cegonhas” e betoneiras roubando espaço.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Logística do Ceará (Setcarce), Clóvis Nogueira, torce para que essa restrição saia logo do papel. Já é uma demanda, segundo ele, muita antiga e necessária, há mais de cinco anos está “emperrada” nas gavetas da burocracia.
Ainda no segundo semestre de 2011, por exemplo, a Prefeitura de Fortaleza chegou a confirmar, em matéria publicada no Diário do Nordeste no dia 16 de setembro, que a proibição na Raul Barbosa começaria nas semanas seguintes. Passaram seis meses e a gestão municipal, conforme o sindicato, continua a postergar as novas medidas, colocando “panos quentes”.
Desde fevereiro de 2010, caminhões com peso total acima de 2,5 toneladas já não podem mais circular em Fortaleza em determinados horários e locais, como no Centro e em certas ruas da Aldeota, Varjota, Meireles e Dionísio Torres. Só no primeiro semestre do ano passado, a AMC chegou a registrar mais de 2.570 multas por circulação indevida.
Insatisfação
O presidente do Setcarce lamenta a falta de planejamento urbano e boa-vontade da gestão em resolver a antiga questão. “A circulação de caminhões é algo necessário para o cotidiano da cidade, mas é preciso criar normas que garantam a fluidez, não só ficar multando e pronto”, relata.
Com a construção civil agitada, as importações a mil, o mercado de compra e venda pedindo mais e mais caminhões, a exigência de novos estudos é fundamental, diz Clóvis Nogueira.
“As restrições que criaram, na Aldeota, por exemplo, não estão funcionando. Faltam agentes da AMC para fiscalizar e rotas de fuga. A construção civil está ficando prejudicada, não podemos abastecer as obras só no horário da noite ou no começo da amanhã”, diz.
Conforme o Setcarce, as multas de caminhões são diárias. Há empresas que chegam a pagar R$ 600 mil todo semestre. “Minha empresa recebe, pelo menos, umas 10 multas por mês. Assim não há solução”, finaliza.
SAIBA MAIS
ÁREAS DE RESTRIÇÃO:
CENTRO: Ruas Castro e Silva, Visconde do Rio Branco, Imperador e Domingos Olímpio. Horário: 2ª a 6ª, 7h às 20h. Sábados: 7h às 15h
ALDEOTA: Anto. Sales, Pe. Valdevino/Beni Carvalho, Pinto Madeira/Eduardo Garcia, Santos Dumont, Costa Barros, Pereira Filgueiras/Dom Luiz, Tenente Benévolo, Ana Bilhar, Frederico Borges, Frei Mansueto, Barão de Studart, Desembargador Moreira, Virgílio Távora, 13 de Maio/Pontes Vieira, Pe. Anto. Tomás. Horário: 2ª a 6ª, 6h às 20h. Sábado, 6h às 13h
BEIRA-MAR: 2ª a 6ª , 0h às 9h e 16h às 24h
MONSENHOR TABOSA : 2ª a domingo, período integral
´A cidade tem que crescer, mesmo com o trânsito ruim´
Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, a gestão municipal tem de pensar em resolver o problema sem atrasar o desenvolvimento.
“A cidade vai ter que crescer, mesmo o trânsito estando ruim. A gente não pode parar. A indústria da construção civil está vivendo um grande ´boom´ e não se pode pensar só em proibir os caminhões. Tem que achar alternativas. Estão atacando só a consequência em vez do problema”, relata Montenegro.
Na opinião do vice-presidente, o “vilão” não é apenas o veículo pesado, mas toda uma sociedade que valoriza o transporte individual, a Capital feita sem vias planejadas e sem rotas de trafego alternativo para os caminhões e outros transportes.
Diálogo
“Sempre vamos ter cegonhas e betoneiras nas vias. A situação pode piorar com o aumento da quantidade de obras da Copa. Mas, reafirmo, o problema não é das construtoras, mas de um grupo que não adequa a cidade”, afirma o vice-presidente. Teria que haver, segundo ele, mais diálogo e soluções sensatas.
Sobre a urgência de novas medidas, a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) informou, em nota, que novos estudos já foram finalizadas e restrições devem ser implantadas visando maior mobilidade urbana na Capital.
“Existem três equipes permanentes, cada uma composta por dois agentes e uma viatura. A fiscalização é dividida por turnos, sendo uma equipe pela manhã e duas pela tarde. O reforço maior é na Aldeota”, afirma.
A punição por circulação proibida pode chegar a R$ 85,00 com infração média, podendo o responsável perder quatro pontos na carteira de motorista.
Portaria
A portaria nº 08/2010 da AMC, que entrou em vigor há dois anos, dispõe medida que caminhões, com carga acima de duas toneladas e meia, não podem trafegar em determinadas vias de Fortaleza entre as 6h e as 20h, de segunda a sexta-feira.
Entretanto, há exceções. O artigo libera o tráfego de caminhões com atara acima de 2,5 toneladas em casos específicos, mediante comprovante.
A liberação refere-se aos caminhões destinados aos serviços de concretagem em obras de bombeamento de concreto; prestação de serviços de mudança, mediante porte de comprovante contendo referência da via ou logradouro a ser acessado e remoção de terra e transporte de caçambas em obras.
Fonte: Diário do Nordeste