O volume do transporte de cargas no País está quase 40% acima do nível pré-pandemia
A cada 10% de crescimento na movimentação de cargas, aumenta em cerca de 6% a 8% o consumo de componentes de reposição, principalmente pneus

Pela mais recente Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgada em outubro, o volume do transporte de cargas no País está quase 40% acima do nível pré-pandemia, impactando diretamente na demanda por peças e pneus. Por outro lado, isso não significa melhora no valor do frete, e o setor continua  enfrentando o déficit de mão de obra.

Segundo Carlos Panzan, presidente da FETCESP – Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo, é preciso ponderar este resultado. “Apesar dos números divulgados, o setor de transporte de cargas ainda vive com margens mais apertadas. Ainda assim, as empresas têm buscado alternativas para manter a competitividade, apostando em eficiência operacional, revisão de custos e inovação em serviços logísticos. Desde 2022, os indicadores apontam um crescimento. Em 2023, tivemos patamar recorde da série histórica da pesquisa. De qualquer forma, é preciso ter um olhar atento ao que ocorre dentro das transportadoras, que reflete na maior atenção das empresas em manter equilíbrio financeiro e aprimorar a gestão”, afirmou.

Para Ludymila Mahnic, diretora Administrativa e Comercial da Mahnic Soluções Logísticas, o avanço (40%) é resultado de uma combinação de fatores que movimentaram toda a cadeia. “O crescimento do e-commerce, a retomada da produção industrial e agrícola e o aumento das exportações deram um novo ritmo ao transporte de cargas. Além disso, o setor evoluiu bastante em gestão e tecnologia, com empresas investindo em frota própria, rastreamento, automação e eficiência operacional. Tudo isso ajudou o transporte rodoviário, que continua sendo o principal responsável pela movimentação de mercadorias no Brasil, a se destacar nesse cenário”, explicou.

Ela disse também que, em parte, esse resultado já era esperado. “A gente já vinha percebendo um movimento positivo depois da pandemia. O transporte ganhou um papel ainda mais estratégico para a economia, e fatores como o bom desempenho do agronegócio e o reaquecimento da indústria aceleraram esse avanço. O setor está mais profissional, com empresas apostando em tecnologia e infraestrutura, o que também tem sustentado esse patamar elevado de atividade”, comentou.

Principais demandas

Sobre as principais demandas, Ludymila respondeu que bebidas e alimentos sempre têm uma demanda muito alta no Brasil. “Principalmente, quando chega no final do ano, pois tem o chamado plano verão, que temos que abastecer para o Natal, Réveillon, Férias e Carnaval. Mas, neste ano, nós tivemos um aumento significativo de níquel para exportação e uma procura também para terras raras, que foi pouca, mas um percentual maior que nos anos anteriores”, especificou. Panzan sintetizou: “as cargas agropecuárias continuam liderando o volume transportado, especialmente grãos, carnes e derivados”, citou.

Valor do frete

Ainda que o volume transportado tenha aumentado, Panzan esclareceu que isso não reflete diretamente no  aumento do valor do frete. “O aumento no volume transportado nem sempre se traduz em valorização do frete. O setor opera em um ambiente altamente competitivo, no qual custos como combustível, pedágio, pneus e manutenção exercem forte pressão sobre as margens”, explicou.

Ludymila foi enfática ao dizer que, infelizmente, não melhorou o valor do frete, mas que o ganho vem de outra forma. “Hoje ganhamos mais em fidelização de clientes, uso de frota própria e veículo com capacidade maior, e isso faz com que o seu percentual de atendimento para tal rota aumente dentro daqueles clientes. Então ganhamos no volume carregado”, afirmou.

Demanda por peças de reposição e pneus

Nas palavras de Panzan, “o aumento da movimentação naturalmente eleva o desgaste da frota e, consequentemente, a demanda por pneus, peças e serviços de manutenção. Esse cenário reforça a importância da manutenção preventiva e da gestão de frota baseada em dados, fundamentais para preservar a segurança e reduzir custos operacionais”, ressaltou.

E Ludymila falou em números. “O aumento do volume de transporte tem impacto direto na demanda por peças e pneus. Estimamos que, a cada 10% de crescimento na movimentação de cargas, haja um aumento de cerca de 6% a 8% no consumo de componentes de reposição, especialmente pneus, que são os itens de maior desgaste. Nas frotas próprias, esse movimento é ainda mais visível, porque o planejamento de manutenção precisa estar sempre em dia para garantir disponibilidade e segurança”, explicou.

Escassez de motoristas

Recorrente no setor de transporte rodoviário de carga, a falta de motoristas continua sendo um percalço. “A escassez de motoristas é uma preocupação nacional e tem mobilizado empresas, federações e entidades de classe. Há um esforço coletivo, liderado por instituições como o SEST SENAT e os sindicatos regionais, para capacitar novos profissionais e requalificar aqueles que estão fora do mercado. As transportadoras também têm adotado políticas de valorização, com melhores condições de trabalho e programas de reconhecimento. A prioridade é fortalecer a mão de obra nacional e tornar a profissão mais atrativa para as novas gerações, garantindo a sustentabilidade do transporte rodoviário de cargas no longo prazo”, disse Panzan.

Ludymila lamentou que está cada vez mais difícil e que esse é um dos maiores desafios do transporte hoje. “Faltam profissionais qualificados, e as empresas têm precisado agir para formar seus próprios talentos. Aqui na Mahnic, por exemplo, investimos na capacitação de motoristas por meio de parcerias com o SEST/SENAT e com iniciativas internas de treinamento prático. Além disso, estamos trabalhando para oferecer melhores condições de trabalho, com planos de carreira, reconhecimento por desempenho e estruturas de apoio mais adequadas”, informou.

Perspectivas para 2026

Para o próximo ano, Ludymila disse que a expectativa é de crescimento sustentável e mais qualificado no transporte rodoviário. “A Mahnic Soluções Logísticas está se preparando para isso. Nosso foco é fortalecer a eficiência operacional da frota própria, investir em tecnologia e capacitação de motoristas, e ampliar a estrutura de armazenagem nas bases de Pirassununga (SP) e Aparecida de Goiânia (GO). Acreditamos que 2026 será um ano de consolidação e expansão, com a Mahnic cada vez mais posicionada como uma solução completa, integrada e confiável para atender às novas demandas logísticas do mercado”, finalizou.

Panzan respondeu que o ano de 2026 tende a ser de adaptação e atenção redobrada para o setor de transporte de cargas. “As mudanças previstas com a Reforma Tributária e o contexto político exigirão das empresas uma gestão cada vez mais técnica, estratégica e conectada às entidades representativas. Será um período de ajustes e de busca por eficiência, em que o foco estará na análise cuidadosa de custos, processos e oportunidades que surgirem a partir das transformações do mercado”, afirmou.

Segundo ele, mediante este cenário, “a orientação é que os transportadores se mantenham próximos aos sindicatos e federações, participando ativamente das discussões que impactam o setor. A expectativa é de um ano desafiador, mas também de fortalecimento coletivo, em que o diálogo e a união entre empresas, entidades e poder público serão fundamentais para que o transporte rodoviário continue cumprindo seu papel essencial na economia brasileira”, concluiu.

Fonte: Balcão Automotivo