Academia Cearense de Letras homenageia Airton Queiroz

0611cd1490Em solenidade realizada na noite de ontem, o Chanceler da Unifor recebeu a Medalha Barão de Studart

O Chanceler da Universidade de Fortaleza (Unifor), Airton Queiroz, foi homenageado, na noite de ontem, com a Medalha Barão de Studart, concedida pela Academia Cearense de Letras. A solenidade de outorga da medalha, que contou com a presença de nomes importantes do Estado, entre eles a presidente do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz, marcou o Dia Nacional da Cultura, celebrado ontem, e teve a participação da Camerata da Unifor.

O Chanceler da Universidade de Fortaleza, Airton Queiroz, recebeu cumprimentos do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Napoleão Nunes Maia. A medalha foi entregue pela presidente do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz, ao lado da reitora da Unifor, Fátima Veras fotos: Tuno Vieira

A condecoração ao Chanceler, a segunda entregue pela Instituição, foi dada em reconhecimento pelo trabalho de incentivo à cultura no Ceará por ele realizado, conforme apontou o presidente da Academia Cearense de Letras, Pedro Henrique Saraiva Leão. “O trabalho dele vem sendo reconhecido internacionalmente, e a este júbilo nós queremos nos juntar, por isso estamos aqui com muito prazer nesta noite oferecendo-lhe esta insígnia honorífica”, declarou.

Para o professor da Unifor e ocupante da cadeira de número dois da Academia Cearense de Letras, escritor Batista de Lima, se trata de uma homenagem importante por ser atribuída a um homem valorizador das artes não apenas na cidade, mas em todo o Estado. Em seus 35 anos na Unifor, conforme acrescentou, vem acompanhando o trabalho feito pelo Chanceler como uma pessoa que gosta de valorizar a cultura, seja ela na literatura, nas artes plásticas, na ecologia e na sustentabilidade. “Ele deveria ter recebido esta medalha há mais tempo. Estamos finalmente nos redimindo e homenageando esse homem que merece”, disse

Barão de Studart

A Medalha Barão de Studart foi criada pela Academia Cearense de Letras na sua atual gestão, no ano de 2009. Representada como a mais alta distinção científica e cultural do Ceará, a medalha tem como objetivo perpetuar a imagem do fundador da Academia, o médico, intelectual e historiador Guilherme Studart, o Barão de Studart.

O primeiro na história a receber a condecoração, o empresário e bisneto do Barão de Studart, Beto Studart, afirmou que a homenagem a Airton Queiroz dá continuidade à preocupação que o Barão de Studart tinha com a educação. Segundo destacou, ao criar a medalha, a Academia resgata a história de um grande cearense, que viveu inserido no meio da sociedade, médico devotado e homem voltado à educação e à cultura. “Eu fiquei muito satisfeito em ser o primeiro ganhador e estar aqui representando a família. Considero a comenda concedida, hoje, muito importante, e a Academia Cearense de Letras está de parabéns por escolher tão bem um homenageado”, disse Beto Studart.

O QUE ELES PENSAM
Reconhecimento pela atuação na área da cultura

“Nesta noite, no Dia Nacional da Cultura, nós exercemos o justo e prazeroso dever de homenagear o Chanceler Airton Queiroz, amigo desta casa, por tudo que ele tem feito pela educação, literatura e cultura”
Pedro Henrique Saraiva Leão
Presidente da Academia Cearense de Letras

“Ao conceder a Medalha Barão de Studart, a Academia Cearense de Letras reconhece a grande contribuição que ele tem dado à cultura cearense, não só na educação, mas também pelo Espaço Cultural Unifor”
Fernando XIMENES
Desembargador

“A Medalha Barão de Studart é o resultado do reconhecimento ao trabalho desenvolvido há mais de 30 anos pelo Chanceler Airton Queiroz no campo da educação, arte e cultura no Ceará”
Fátima veras
Reitora da Unifor

Medalha faz justiça a projetos

Chanceler Airton Queiroz:

Esta Academia, Chanceler Airton Queiroz, é uma Casa de imortais que cultiva as tradições culturais do Ceará e faz desse mister a razão primária de sua existência, há mais de 100 anos: por aqui circulam as sombras familiares dos mais vigorosos pensadores do nosso Estado; e cultivar as nossas tradições é valorizar sobremodo o reconhecimento dos méritos das pessoas, das que nos antecederam na história e das que convivem conosco agora, nesta alegre, desafiadora e animada empreitada de produzir resultados frutíferos, que se prolongam pelo futuro adentro, efetivando benefícios e valores que talvez nem estivessem na consciência ou na vontade de quantos, provavelmente conduzidos por uma mão invisível (para usar esta feliz expressão de Adam Smith, indicando o impulso criativo dos homens fazedores de coisas), cumpriram um destino imortal e hoje merecem as nossas reverências – os homens fazedores, na palavra do velho Jorge Luís Borges.

A medalha que agora esta Academia lhe outorga, Chanceler, traz o nome e a proteção de um imortal desta Casa; nossa a imortalidade consiste em não ser esquecido pelos pósteros: Guilherme Chambly Studart – o Barão de Studart, nome de avenida e estrela de nossa inteligência, médico, intelectual e historiador, agitador de ideias novas e recuperador de nossa formação, um homem bifronte, que olhava o passado com os olhos do nosso futuro.

Guilherme Studart integrou aquela estirpe inesquecível de homens valorosos, que nos anos finais do século XIX e iniciais do século XX, agitou o Ceará e Fortaleza com as suas iniciativas ousadas e corajosas, empreendendo novidades, lançando pensamentos revolucionários, registrando os anais da vida civil e deixando assentadas as bases de nosso desenvolvimento posterior; esses nomes estrangeiros – Chambly e Studart – são da sua ascendência paterna, mas o Barão era cearense da gema e dedicou ao nosso Estado e à nossa Capital as principais energias de sua longa vida de 82 anos – de 1856 a 1938 – como médico formado na Bahia (1877), exercendo o seu mister curador e benemérito no Hospital da Caridade de Fortaleza, onde o seu humanismo britânico e cearense foi um estandarte, sem deixar de ser um intelectual da maior percuciência e visão de futuro

Naqueles tempos, Chanceler Airton Queiroz, fervilhavam aqui as poderosas forças abolicionistas (que seriam vitoriosas em 1884), e ao jovem Guilherme Studart, na força dos seus 20 e poucos anos, não lhe foi estranha aquela luta; participante ativo e pertinaz da Sociedade Cearense Libertadora, desencantou-lhe o rumo da entidade, por causa da sua metódica conduta, e, junto com o irrequieto Meton de Alencar e outros denodados, fundou o Centro Abolicionista, que conduziu a bandeira pela abolição, até a sua consumação, com ele – o jovem Guilherme – atuando na linha de frente dos confrontos, que foram muitos e memoráveis: mas essa é outra história, que depois o Professor Murilo Martins irá nos contar, falando dos médicos da Academia.

Pois bem, Chanceler, o honrado patrono e nume tutelar da sua medalha era um bom e devoto católico – quando talvez se pensasse que poderia ser um cristão anglicano, pela sua ascendência britânica – tanto que em 1900, por sugestão do nosso 2º Bispo Diocesano Dom Joaquim José Vieira (o 1º foi Dom Luís Antônio dos Santos e o 3º Dom Manuel da Silva Gomes, refiro os seus nomes para registro dos mais moços), o Papa Leão XIII (o Pontífice da Encíclica Rerum Novarum, de 1891), outorgou-lhe o título de Barão da Santa Sé, distinção nobiliárquica reservada a pouquíssimos, e uma comenda de inestimável significado, e não apenas entre os seguidores da Igreja de Roma.

O Barão foi participante atuante de várias instituições culturais e científicas, foi destacado membro e é imortal desta Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará, do Centro Médico Cearense, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, do Instituto Histórico e Geográfico Pernambucano, do Centro Literário, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, do Instituto Histórico de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, do Instituto Histórico e Geográfico Fluminense, da British Medical Association, da Sociedade de Geografia de Paris e da Sociedade de Geografia de Lisboa; numa terra como a nossa, em que os historiadores são raros – e aqui se deve relembrar Capistrano de Abreu e o imortal Raimundo Girão – o Barão foi um pioneiro, por isso que é justamente chamado de Heródoto Cearense, por ser o pai de nossas pesquisas nesse campo científico.

Veja, Chanceler Airton Queiroz, veja que homem dinâmico e notável, o Barão de Studart, patrono da medalha que agora Vossa Excelência passa a ostentar garbosamente no seu peito, pelo seu merecimento de homem realizador – da estirpe do Barão – dedicado ao trabalho meritoso e prospectivo de encaminhar a nossa juventude no rumo do seu destino, quando poderia, na comodidade e no sossego, apenas usufruir ociosamente as dádivas da sua boa estrela; mas uma mão invisível o conduz a realizar projetos novos, a criar outras oportunidades e iluminar novos caminhos, Chanceler.

Com palavras sonoras e eloquentes, o Poeta Artur Eduardo Benevides, um dos maiores desta Academia, disse sobre os homens sonhadores de destinos fantásticos:

Sonhando com projetos impossíveis encho de estrelas todo o meu caminho.

Esta Medalha Barão de Studart, Chanceler, faz-lhe a maior justiça, pois Vossa Excelência é um indiscutível fazedor de projetos impossíveis, porque deu continuidade à obra perene de seu pai Edson Queiroz e ampliou os horizontes de seus sonhos, rasgou até às nuvens o seu pensamento, nisso se ombreando com os grandes homens do nosso passado histórico, hoje presentes nas nossas homenagens e nas nossas lembranças.

Digo que não são apenas as múltiplas empresas que o seu tirocínio dirige, nem os empregos que gera, nem as vagas universitárias que cria – embora isso já seja motivo bastante para merecer esta medalha – mas é também (e sobretudo) pela sua cuidadosa valorização das coisas da cultura, pelas exposições de obras de arte que realiza, pelas promoções que trazem a Fortaleza pessoas do mundo empresarial, do mundo político, do mundo das artes, de outros mundos e de todos os mundos, para comunicarem a sua cosmovisão, sugerir projetos e propor diretrizes: esse é o seu diferencial, Chanceler, o seu brilho peculiar e distinto, ou a sua grande marca.

O insigne Rui Barbosa dizia que os homens essenciais são aqueles que realizam as suas metas sem saber quando virão os seus frutos, mesmo sabendo que virão nos tempos posteriores do futuro; talvez somente os visionários possam ver essas realidades de suas mentes: assim são os escritores pesquisadores (como Manuel Eduardo e Sânzio Azevedo), os romancistas (como Rachel de Queiroz), os filósofos (como Manfredo Ramos), os poetas (como Luciano e Virgilio Maia), os historiadores (como Guilherme Studart e Raimundo Girão) os empresários (como José Augusto Bezerra e Airton Queiroz), os professores (como Paulo Bonavides, Cid Carvalho, Linhares Filho e Eduardo Diatahy) – e onde colocar Gerardo Melo Mourão, que foi tudo isso e mais ainda? – que certamente não saberiam o que responder – pelo menos de pronto – se alguém lhes perguntasse para que escrevem, para quem produzem, por que revolvem os fatos do passado, que motivo secreto os impele a tanto esforço, empenho e sacrifício, muitas vezes cercadas de várias incompreensões e muitas adversidades?

Esta Academia é a antena que capta os grandes valores humanos, que sabe identificar as pessoas produtivas e ativas, timbra em proclamar os que sabem que os insumos da cultura tão perenes como as dádivas de Deus, como agora reconhece em Vossa Excelência, Chanceler Airton Queiroz, pois aqui – com a evidente exceção de um único e de somente um – todos os Acadêmicos são exponenciais nos seus campos de atividade e todos reconhecem na pessoa do Chanceler Airton Queiroz um homem fazedor de coisas, um merecedor, com as mais sobejantes razões, do reconhecimento dos seus contemporâneos.

Orgulha-nos, Chanceler, oferecer-lhe esta medalha e o seu patrono, o Barão de Studart, o vitorioso Guilherme, pelo seu exemplo de dedicação à cultura e às coisas do espírito, lá do seu assento eterno balança a cabeça veneranda em aprovação, vendo que os seus sucessores na Academia Cearense de Letras conservam aceso o seu farol e alimentam de atualidade a preocupação que encheu a sua vida proveitosa, como também o relembram como uma estrela, um espelho e um ícone, um acadêmico imortal; esta medalha, Chanceler, é uma homenagem e um apreço, mas também um sinal que o identifica entre muitos como um homem de elevada percepção, que acerta o alvo que os outros nem mesmo veem.

Na aclamação dos Acadêmicos do Ceará, Vossa Excelência, Chanceler Airton Queiroz, é credor desse nosso reconhecimento, que os seus méritos são sentidos na antena de captar valores superiores, a antena desta Casa de cultura e de saber, mas também de engarrafadores de estrelas, centauros urbanos, cheios das lembranças das doces meninas de outrora que amanheceram, vestiram os seus vestidos novos e pintaram as unhas de vermelho, na imagem do Professor Horácio Dídimo, repleta de benevolente ilusão reconfortante.

Chanceler Airton, o nosso abraço de amizade e de estima.

Napoleão Nunes Maia
Acadêmico e ministro do Superior Tribunal de Justiça

Trabalho em prol da educação

Senhoras e senhores,

É com prazer que compareço a esta Academia Cearense de Letras, que tanto enobrece a inteligência do Ceará. Já dignifica esta augusta casa ter sido a entidade literária pioneira que antecedeu a criação da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Mas esse fato se engrandece com a linhagem erudita de prosadores e poetas que frequentaram suas cadeiras acadêmicas no decorrer de mais de um século de existência.

Vale ressaltar as notáveis figuras históricas de Antônio Sales, Padre Antônio Tomás, Rodolfo Teófilo, Eduardo Campos e Rachel de Queiroz. Faço uma menção particular a Guilherme Studart, conhecido como Barão de Studart, que foi fundador tanto desta Academia Cearense de Letras como do Instituto Histórico do Ceará. Assim, a medalha com a qual acabo de ser agraciado, há de conter uma relação com o trabalho desenvolvido em prol da educação superior, das artes e da cultura. Como instituição plural e com largo raio de ação, a Universidade de Fortaleza oferece para seus alunos e à sociedade cearense um generoso espaço cultural, ocupado permanentemente por exposições de artistas nacionais e estrangeiros; e por mostras de objetos e documentos históricos. O Teatro Celina Queiroz realiza em seu palco peças teatrais e eventos musicais, tendo se tornado um ponto de convergência cultural de Fortaleza. Quanto à literatura, promovemos todo ano um concurso de poesia e conto, premiando os vencedores do certame. Desenvolvemos também um projeto na área esportiva, porque julgamos importante para a cultura, desde os tempos da Grécia Clássica. Construímos um estádio de atletismo, de pista internacional e um ginásio poliesportivo.

Essas iniciativas culturais não se destinam apenas ao público especializado, pelo contrário, os espaços são um território democrático com apelo de inclusão social. Nosso projeto Educação pela Arte entende que a arte é um agente catalisador da transmissão do conhecimento; a arte eleva o nível do aprendizado, formando cidadãos mais humanizados, capazes de formularem juízos críticos e aptos para lidarem com os problemas que empolgam a sociedade contemporânea. Além disso, incentivamos a difusão da arte como projeto pedagógico de longo prazo, trazendo para o espaço cultural caravanas de crianças e jovens da escola pública de todos os municípios cearenses.

Assistimos repetidamente ao encantamento desses estudantes que, pela primeira vez, entram em contato com obras de pintura, escultura, fotografia e artefatos de artes visuais. Senhores acadêmicos: quero dizer que esta causa não é somente minha; esta causa é nossa, das nossas pujantes instituições. A Unifor e a Academia Cearense de Letras possuem vínculos de missão e de trabalho colaborativo, que merecem ser revigorados e aprimorados. Sendo hoje Dia da Cultura, cumpre enfatizar que a cultura deixou de ser um privilégio das elites e passou a ser uma necessidade vital para a afirmação: “uma nação pode manter-se viva, quando sua cultura e sua história se mantêm vivas”.

Senhores acadêmicos: certo do compromisso que temos para com a cultura e a arte, agradeço a todos vocês a generosidade da presente homenagem e o faço através do presidente dessa augusta academia, o amigo Pedro Henrique Saraiva Leão. Sou também especialmente grato ao ilustre acadêmico Napoleão Nunes Maia pelas suas calorosas palavras de saudação.

Muito obrigado e sejam felizes.

Airton Queiroz
Chanceler

Fonte: Diário do Nordeste/O Povo

06.11.12