Foram assinados no CVT Portuário Manuel Dias Branco, na manhã de ontem, os dois contratos que marcam o lançamento da rota marítima Fortaleza – Cabo Verde, que será operada pela Trade Mix Brasil (antiga Ceará Trade Mix), com a Companhia Docas do Ceará (CDC) e a AC Orssleffs AS. O primeiro, de operação do Porto de Fortaleza, foi assinado pelo presidente da CDC, Paulo Holanda, e o segundo com Luiz Valverde, da Marinav, representante da companhia internacional que realizará a operação de navegação, propriamente dita. O primeiro embarque está confirmado para a segunda quinzena de dezembro, com uma carga de três mil toneladas de produtos diversos, como aço, revestimentos cerâmicos, argamassa para rejuntamento, sucos de frutas e calçados. Outro fator importante é que o tempo da viagem, que hoje chega a 45 dias, com a rota direta, ficará em apenas sete, reduzindo os custos.
De acordo com o diretor da Trade Mix Brasil, Roberto Marinho, neste primeiro momento está prevista uma viagem por mês, que será responsável pela injeção de, aproximadamente, US$ 40 milhões por ano na balança comercial cearense, o que é equivalente a 3,5% de tudo aquilo que o Estado exportou no ano passado. E esta movimentação de cargas tem tudo para ser ampliada, uma vez que pode ser expandida para produtos de estados vizinhos ao Ceará, e para outros países africanos. “Afinal, Cabo Verde é a porta de entrada da África, um continente ávido por uma série de produtos. Temos um projeto especial para a parte de moda, a fim de que não possamos cair na calha da China, fazendo com que o selo ‘Made in Ceará’ ofereça um maior valor agregado aos nossos produtos”, explicou.
CRESCIMENTO
Ele destacou, ainda, que é muito importante que as empresas cearenses entendam que este é um novo mercado que se abre para o Ceará e o Brasil, que importa praticamente tudo aquilo que consome, desde alimentos, roupas, calçados e outros produtos industrializados. Além disso, possui um grande potencial de crescimento, nos próximos anos, no seu nível de importação de produtos oriundos do Ceará e do Brasil. “Já estamos realizando parcerias comerciais com empresários de países como Angola, África do Sul, Cabo Verde, Guiné Bissau e Moçambique. E já existem negociações, bastante adiantadas, com representantes de Senegal e Benin, além de todos os países da costa oeste africana. Portanto, a expansão é uma questão de tempo”, asseverou Roberto Marinho.
Esta opinião é compartilhada pelo embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, que também esteve presente à solenidade de assinatura dos contratos, pois também trabalhou intensamente, para que a nova rota fosse implantada. Ele disse que essa rota confere grande estabilidade para as relações comerciais entre o Brasil e a África, especialmente de produtos oriundos do Ceará. Afinal, estarão abertas as portas de todo o continente africano, mas especialmente das zonas Norte e Oeste, com 16 países, entre eles a Nigéria, que tem uma população estimada em mais de 170 milhões de pessoas.
O embaixador afirmou que o comércio africano com o Brasil, atualmente, é composto, na sua essência, por commodities agrícolas, mas a partir deste momento, passará a ter uma nova dimensão, com uma grande variedade de produtos oferecidos. “Agora partiremos para uma nova dimensão, com relações comerciais envolvendo calçados, confecções, ferro (que é o segundo produto de nossa pauta de importações), materiais de construção, açúcar, sucos, carnes (frango, suíno, bovino), dentre outros”, completou Daniel Pereira.
Uma oportunidade para grandes negócios
O lançamento da rota direta entre Fortaleza e Cabo Verde foi comemorado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Roberto Macêdo, pois representa a oportunidade de diversos produtos manufaturados cearenses, de maior valor agregado, chegarem ao continente africano. “Essa rota não é importante apenas para a nossa indústria, aqui do Ceará, mas é um grande passo que está sendo dado pelo Brasil. Através do Porto do Mucuripe, que está próximo de mercados como a África, a Europa e os Estado Unidos, facilita o aumento de nossas exportações. E com este hub em Cabo Verde, atenderemos a um mercado ávido por produtos brasileiros e cearenses. Isso sem falar que deve haver redução de um terço no custo do frete e um sexto no tempo”, ressaltou Macêdo.
Para Roberto Marinho, da Trade Mix, a África é, hoje, a nova fronteira do desenvolvimento, e o Ceará sai na frente, criando uma condição de atendimento a uma necessidade real. Isso porque inicia a operação com uma escala pequena, com três mil toneladas por viagem, mas como o armador tem navios maiores, esse volume pode crescer de acordo com demanda. “Além disso, temos condições de fazer três viagens por mês, caso seja necessário. O potencial de negócios do continente africano é proporcional ao nosso interesse. Para retomar o crescimento é preciso solidificar parcerias, melhorar a logística e aproveitar a posição geográfica de Fortaleza e cabo Verde”, asseverou.
Já o presidente da CDC, o Porto de Fortaleza está recebendo, nos últimos três anos, R$ 350 milhões em investimentos em obras de expansão e reformas, equipamentos, Tecnologia da Informação (TI) e diversas outras áreas. Com isso, tem crescido e se desenvolvido, superavitário, e com capacidade de continuar crescendo. “Nossa movimentação de cargas tem crescido a cada ano e, para 2013, a projeção é de que movimentemos 4,93 milhões de toneladas de mercadorias diversas. E estamos com uma área de pátio em Maracanaú (Centro de Triagem), para desafogar o fluxo de caminhões aqui no entorno do porto, que só virão para cá, no momento de carregar ou descarregar”, lembrou Paulo Holanda.
Fonte: Jornal O Estado