Segurança – Sob Vigilância

SOB VIGILÂNCIA

Sistemas de rastreamento, gerenciamento de risco e escolta são muito usados para proteger o transporte de cargas

Por Adriana Bruno

 

O transporte de cargas no Brasil ainda é arriscado. Em 2009, ocorreram 7.776 roubos de cargas, presentou um aumento de 14,4% em comparação com 2008, quando houve um total de 6.653 ocorrências. Esses dados foram obtidos pela ABTC – Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga e pela Fetracan – Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Nordeste.

Segundo Newton Gibson, presidente da entidade, 59% dos assaltos acontecem nas rodovias federais e 1% as estaduais. “Os horários preferidos pelos ladrões estão no período matutino (42%), entre 8h e 11h, quando as transportadoras fazem a maioria das entregas. Os períodos vespertino e noturno correspondem,

respectivamente, a 36% e 22%. Os dias de maior incidência são, em primeiro lugar, as quartas – feiras, seguidas pelas terças-feiras e quintas-feiras. As regiões do País onde se registram os maiores números

desses crimes estão nos Estados  de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os maiores percentuais ocorrem nas rodovias Presidente Dutra, Anhanguera e Castelo Branco, onde se concentram 90% dos casos. As cargas mais visadas são os produtos alimentícios, os medicamentos e os aparelhos eletrônicos”,conta. Gibson também diz que o prejuízo anual com o roubo de cargas atinge a casa dos 250 milhões de reais. “A partir daí, pode-se analisar um dos pontos que afetam a cadeia produtiva. É importante ressaltar o risco que os profissionais correm, e a demora na entrega das mercadorias, acarretando a não disponibilidade de produtos ao consumidor final”, diz.

Benefício e prevenção

Para José Antônio da Silva Rodrigues, gerente de Logística do Spani Atacadista,segurança é algo que faz parte do dia a dia das operações de um atacadista ou distribuidor. “Hoje, o que se gasta com segurança é reconhecido como um benefício. Pensar em meios de garantir que o transporte da carga aconteça com segurança, ou, pelo menos,de prevenir a ocorrência de roubos, é algo que já faz parte da operação. O roubo de cargas não significa apenas prejuízo financeiro, pois há também uma série de questões importantes envolvidas e que vão desde o estresse psicológico sofrido pelo motorista até a não entrega dos produtos no cliente”,comenta Rodrigues.

O presidente da ABTC lembra que o delito do roubo onera as empresas e que falta atuação do governo

para reduzir o problema.“No orçamento previsto para se enfrentar esse problema, a empresa marca com a despesa da franquia, que é da ordem de 25% do valor da carga, e, dependendo da mercadoria, do trecho ou da região, esse percentual pode se elevar a até 30% do valor da mercadoria”, diz. Em uma estimativa

conservadora, os prejuízos provocados pelos delitos alcançam um montante da ordem de 600 milhões

de reais por ano. “Os receptadores burlam a lei, e atuam livremente, como se ela não existisse para eles.

As esferas governamentais não têm feito sua parte para prevenir, combater ou reprimir o roubo de cargas no Brasil. Faltam ações mais enérgicas e, principalmente, uma legislação mais bem estruturada para combater esse crime, principalmente para inibir a receptação de cargas roubadas. O receptador é a raiz de todo o problema do roubo de cargas”, afirma.

O mercado de tecnologia e de produtos para rastreamento de cargas está sempre crescendo e se sofisticando. Os rastreadores não atuam mais sozinhos. Eles podem vir acompanhados de um sistema de gerenciamento de risco, o que torna a ação de segurança mais eficiente. “A união do rastreamento com a monitoração do gerenciamento de risco de boa tecnologia ajuda a prevenir as perdas com o roubo de cargas. Basicamente, quando a empresa contrata o gerenciamento de risco, a carga é monitorada durante todo o seu trajeto, desde o momento em que sai do depósito até a chegada no seu destino. Qualquer

evento – uma parada não programada, uma mudança na velocidade ou na rota, e até mesmo a abertura de

uma porta do caminhão – é realizado com acompanhamento, e então se tomam as providências necessárias”,explica Arlison Oliveira, gerente comercial da 3S Rastreadores. Ele também conta que para combater as chamadas áreas de sombra, onde o GPS fica sem sinal, as empresas lançaram novas tecnologias, como a LBS. “Trata-se de uma triangulação de antena GSM, a qual reduz o problema das áreas de sombra. No Brasil, o maior número de ocorrências acontece no interior de Minas Gerais

e no Nordeste. Porém, cerca de 65% dos roubos de cargas ocorrem em São Paulo”, esclarece Oliveira.

O tipo de sistema de segurança contratado pelas empresas também depende do valor da carga. Quando

as cargas são de alto valor agregado, uma escolta armada costuma ser acionada. “Nossa frota é monitorada via satélite e, além disso, nosso SAC faz o gerenciamento do transporte. A cada meia hora, entramos em contato com o motorista para sabermos como está o andamento da viagem. E quando o valor da carga é alto, contratamos também o serviço de escolta.Ressalto que tudo isso serve não apenas para proteger a carga, mas também para garantir a segurança do motorista”, relata Rodrigues.

Minimizacão de riscos

Os benefícios do gerenciamento de risco são muitos e, de acordo com André Lopes Magri, gerente nacional de Riscos do Grupo Servis, o sistema atua preventivamente nos riscos inerentes à operação, disciplinando toda a cadeia operacional diante de regras e procedimentos logísticos e de segurança. “O

resultado disso é a produtividade da frota e da empresa, e horários, coletas e entregas pontuais, além da minimização do risco e da redução de sinistros como acidentes, avarias e roubo de cargas”,explica. O especialista também informa que no Norte e no Nordeste o aumento de ocorrências de roubos de

cargas e de tentativas de roubos vem crescendo numa taxa alarmante e se distanciando inclusive da proporção em que esses mesmos crimes crescem nas Regiões Sul e Sudeste. “Muitas vezes, são quadrilhas que migram do Sul e do Sudeste em consequência do aumento da repressão e da especialização das polícias naquelas regiões”, completa.

Segundo Newton Gibson, o roubo de cargas é organizado por quadrilhas especializadas, que não são

facilmente combatidas, e por isso a escolta armada dificulta a ação dos bandidos. “O Brasil vem buscando

meios de aprimorar o fluxo interno de mercadorias destinadas à produção e também à comercialização apoiado no uso de metodologias de áreas de ponta, como a informática. E os centros de distribuição e armazenagem modernizaram-se e se tornaram mais eficientes com os novos sistemas. O aumento do número de roubos de cargas, no entanto, está fazendo com que outro segmento também cresça, a escolta armada. O setor registrou um aumento médio de 50% nos últimos dois anos”, comenta.

Antes de contratar o serviço de uma empresa especializada na segurança e no transporte de cargas, o atacadista distribuidor deverá se cercar de alguns cuidados. “Há um amplo mercado de tecnologia, e o melhor a fazer no momento de escolher é consultar uma gerenciadora de risco, que poderá avaliar a operação e indicar o melhor custo/benefício, uma vez que é normal encontrarmos empresas que gastam rios de dinheiro em tecnologias de rastreamento sem necessidade, ou empresas que deveriam investir em ferramentas mais completas em vez de usar equipamentos limitados e ineficazes”, orienta Magri.

Na opinião de Oliveira, da 3S Rastreadores, os riscos de roubo de cargas são maiores entre os pequenos

atacadistas, uma vez que os grandes já têm a segurança da carga como condição do negócio. “Nas grandes

empresas, o uso de algum sistema de rastreamento está implícito nas apólices de seguro. Isso faz com que o risco esteja mais próximo das pequenas e médias, que nem sempre incluem essa exigência em seus contratos. Além de minimizar a perda de cargas, a existência de um sistema de segurança ajuda a reduzir o custo com as apólices”, finaliza Oliveira.

Fonte: Revista Distribuição.

produto-distribuicao-208