Produtividade da indústria cai com deterioração de acesso ao Pecém

Com prejuízos provocados por buracos na CE-155, que dá acesso ao Cipp, transportadoras já se negam a operar pelo trecho e setor produtivo busca alternativas para escoar produção. Movimentação de frutas pelo Pecém caiu

Buracos dificultam a chegada de insumos às indústrias do Complexo Industrial do PecémFOTO: KID JÚNIOR

Em um País dependente do transporte rodoviário, ter boas condições de tráfego nas estradas é essencial para a dinâmica econômica. Mas, não é o que tem acontecido em algumas rodovias que cortam o Estado. Na CE-155, o principal acesso de cargas ao Porto do Pecém, o percurso está tomado de buracos, dificultando a chegada de insumos às indústrias do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) e o escoamento da produção. De acordo com especialistas, a produtividade das empresas no local já caiu pela metade.

O presidente da Câmara Setorial de Logística (CSLog) da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Heitor Studart, aponta que, além do aumento do frete, a produtividade das empresas foi comprometida em 50%. “Caminhões que antes faziam três viagens por dia agora só fazem uma. As transportadoras de cargas pesadas já estão se recusando a trafegar no trecho em virtude dos danos causados aos meios de transporte deles”.</CW>

Marcelo Maranhão, diretor institucional do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Estado do Ceará (Setcarce), revela que já há cargas de frutas que antes eram enviadas ao exterior a partir do Porto do Pecém e que agora estão sendo levadas para o Porto de Natal (RN).

“A CE-155 é o único acesso ao Porto do Pecém para veículos de carga e está em condições deploráveis. O custo para as transportadoras já cresceu na ordem de 30% a 35%. É muito significativo e estamos com dificuldade de repassar para as embarcadoras”, ressalta.</CW>

Comprovando a declaração de Maranhão, segundo relatório mensal do Terminal Portuário do Pecém, o volume de frutas, cascas de frutos cítricos e melões exportados caiu 44%, entre janeiro e agosto, em comparação a igual período do ano passado (15,9 toneladas ante 28,5 toneladas embarcadas). Ainda assim, o Porto do Pecém informou em nota que “não há registro, nem reclamação formal de uma empresa dizendo oficialmente ao Porto que está deixando de exportar cargas em virtude das condições das estradas”.

Além dos prejuízos com os veículos do transporte de carga, as indústrias ainda sofrem riscos de danos aos produtos. “Imagina uma pá eólica de 85 metros de comprimento passando por aquela rodovia cheia de buracos. O risco de danos ao produto é muito alto. Isso tem afastado as cargas e prejudicado tanto o Porto como o Complexo”, afirma Ricado Sabadia, diretor executivo da Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp).

Os trabalhadores da região também reclamam das condições da pista. O caminhoneiro Francisco Maranhão, que atua puxando container, revela: já faz cerca de um ano que a situação na CE-155 piorou.

“Tá péssimo. Todo dia rodo por aqui. Antes, dava duas viagens por dia, agora só faço uma, porque se não quebra o carro. Um trecho que antes eu fazia em, no máximo, 30 minutos, agora levo uma hora e 20 minutos. Semana passada mesmo, perdi um pneu, acabou meu rolamento, gastei R$ 1,5 mil”, reclama.

Histórico 

A licitação para duplicação da CE-155 foi finalizada em 2017, sob responsabilidade do extinto Departamento Estadual de Rodovias (DER). A empresa vencedora, no entanto, iniciou as obras e abandonou o projeto meses depois. A segunda colocada assumiu, e o abandono se repetiu. Em agosto, a Superintendência de Obras Públicas (SOP) assinou ordem de serviço para o reinício das obras. Dessa vez, está responsável pela duplicação o consórcio integrado pelas construtoras Locacon e Copa.

A SOP informou em nota que a retomada das obras de restauração e duplicação da CE-155 ocorreu em setembro. “Atualmente, estão sendo realizadas ações de terraplenagem para as novas pistas”, acrescenta o comunicado. A Pasta ainda detalha que o investimento é de R$ 62 milhões, com recursos do Governo Federal provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e contrapartida do Estado. A Pasta prevê a conclusão da obra até o início de 2021.</CW>
Mesmo assim, o governador Camilo Santana afirmou que quer entregar o trecho o mais rápido possível. “Nesta semana fiz uma reunião sobre isso. Está bem adiantada. A expectativa é que a gente possa, o mais breve possível, entregar essa obra que teve alguns transtornos por conta das construtoras. É toda uma infraestrutura que temos procurado fazer para garantir que nossos investidores possam vir ao Ceará e dizer que nós temos boas estradas”, ressalta.

Projeto 

Apesar disso, Heitor Studart aponta que o serviço está sendo realizado muito lentamente. “Na nossa opinião, não começou ainda a recuperação. A Aecipp está pedindo ao Governo a apresentação do projeto para que sejam debatidas em conjunto as soluções para atender às necessidades do setor produtivo”, destaca.

O presidente da CSLog aponta que o projeto necessita ter alto nível, com vida útil de 15 a 20 anos. “É preciso que o dimensionamento de pavimento seja para carga pesada, que o desenho geométrico seja revisto, com faixas acessórias, faixa lenta, faixa de ultrapassagem, porque lá o trânsito é misto, tem automóveis e carga pesada”, afirma.
BR-116

Além da CE-155, a interdição dos quilômetros 60 a 90 da BR-116 para caminhões acima de 70 toneladas tem causado transtornos ao setor logístico. Studart aponta que, por conta dos desvios, o custo do frete deve subir pelo menos 15%. A alternativa sugerida pelo setor é que sejam utilizadas as rodovias estaduais, onde veículos com mais de 70 toneladas não podem trafegar, para reduzir o percurso.

“Tivemos reunião esta semana com o Governo, que não apresentou nenhuma solução imediata. Não podemos esperar mais 90 dias pela liberação da BR-116. Agora, vamos levar a questão à diretoria da Fiec para tentar levar o assunto diretamente ao governador Camilo Santana”, destaca.

Studart acrescenta que a interdição da BR-116 e o desvio tem contribuído para a redução de cargas enviadas ao Porto do Pecém.
“Determinada carga que sai de Quixeré, por exemplo, que é uma região de mineração, não vai pegar mais a BR-116 e o desvio, porque pode tomar a BR-304 e ir para o Porto de Natal. A tendência é a situação se agravar”, conclui.