Potencial do NE no e-commerce não reduz preços elevados de fretes

Fonte: Diário do Nordeste

Levantamento aponta custo até 341,5% mais caro para Fortaleza na comparação com São Paulo. Região teve, em 2018, faturamento de R$ 7 bilhões no comércio eletrônico e ainda enfrenta problemas com os prazos de entrega

 

Dificuldade de logística e péssimas condições rodoviárias são fatores para os preços elevados
Foto: Natinho Rodrigues

Região brasileira com maior potencial quando se trata de e-commerce, o Nordeste é, entretanto, a localidade que mais sofre com a logística para viabilizar esse tipo de negócio. De acordo com relatório Webshoppers, divulgado pela E-bit/Nielsen (especialistas em inteligência competitiva para comércio eletrônico e análise de dados), o faturamento do e-commerce na Região chegou a R$ 7 bilhões em 2018, garantindo um crescimento de 27% ante 2017 e o maior avanço do País. Mas estes números em nada adiantam para agilizar as entregas em estados, como o Ceará.

Uma comparação realizada pela reportagem levando em consideração endereços em Fortaleza, Brasília (DF), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS) revelam que os valores pagos pelo consumidor cearense são muito superiores aos compradores nas outras localidades pesquisadas.

O menor valor para receber em Fortaleza um guarda-roupa comprado em uma das maiores varejistas do comércio eletrônico nacional chega a ser 341,5% maior ante o frete para o mesmo produto, comprado na mesma loja, mas com entrega solicitada para São Paulo; 285% maior na comparação com Brasília e 274% mais caro que o frete para o Rio Grande do Sul.

Nessa situação, o mais caro não necessariamente é o mais eficiente. O mesmo relatório E-bit/Nielsen revela também que o Nordeste apresenta a menor taxa de entrega de produtos dentro do prazo em relação às outras regiões brasileiras, com 81%. O Sul teve o maior índice de produtos entregues até a data prometida pela loja (88,1%).

Perda de vendas

O diretor de Comunicação da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.Net), Gerson Rolim, considera que o preço do frete pode influenciar na perda de vendas do e-commerce. “Sem sombra de dúvidas, se o frete tiver um peso relevante no valor da compra, principalmente em produtos de menor valor, a gente acaba vendo a perda nas comercializações”, diz.

Lamentando a dificuldade logística inflamada pela dimensão continental do Brasil e as péssimas condições rodoviárias – principal modal utilizado para o transporte de cargas no Brasil -, Rolim detalha que uma solução demanda “investimentos altos”. “O modal rodoviário é muito caro, então o Brasil se vê atrasadíssimo em relação a outros países. Além de caro, é uma das opções mais inseguras. O que nós esperamos é que sejam priorizados cada vez mais outros modais, como o hidroviário e ferroviário”, aponta.

Para ele, também falta a iniciativa privada, como operadores marítimos, perceber no e-commerce uma oportunidade demanda. Enquanto a infraestrutura ainda não permite um escoamento maior de produtos por outros modais, na avaliação de Rolim, estratégias como sugerir “o frete grátis a partir de R$ 200 ou R$ 300” continuam sendo adotadas. Aliado a isso, grandes varejistas investem cada vez mais em Centros de Distribuição para diluir o custo das viagens realizadas. O cofundador da plataforma online de promoções Promobit, Fábio Carneiro, lamenta que é comum o consumidor desistir da compra ao se deparar com o valor do frete. “Se o cliente vê um produto de R$ 1 mil e um frete de R$ 50, ele se sente desestimulado”, explica.

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‘Frete embutido’

Fábio Carneiro destaca que alguns sites com o atrativo do “frete grátis”, na verdade, incorporam o valor do transporte no produto, evitando assim reduzir a margem de lucro. “Existem empresas que adotam a ‘política do frete grátis’, mas a gente percebe muitas vezes que, quando isso acontece, o valor do frete acaba sendo embutido no valor do produto”, explica Carneiro.

Ele também aponta os Centros de Distribuição como uma alternativa interessante e cada vez mais adotada pelo segmento para driblar a questão logística, principalmente, quando se trata de Nordeste. “Uma solução visualizada pelos grandes varejistas é se antecipar a uma demanda. Assim, ao invés de encaminhar os produtos pedidos individualmente, todos os meses uma quantidade ‘X’ de itens seria encaminhada e ficaria armazenada em um centro de distribuição, diluindo o frete”.

Conforme a E-bit/Nielsen, o ticket médio da região Nordeste, incluindo o frete pago, ficou em R$ 479 no ano de 2018, acima da média do mercado nacional (R$ 434).

Categorias

Ainda segundo o relatório, os produtos de perfumaria, cosméticos e saúde tiveram o maior crescimento na demanda dos nordestinos em 2018 (+75%). O segundo maior salto foi nos eletrodomésticos (+38%), seguido por livros (+26%) e pelos acessórios de moda e roupas (1,2%). Já os produtos de telefonia apresentaram queda de -3%.