INFRAESTRUTURA- Estradas precárias podem piorar na estação chuvosa

Além das chuvas, a queda na qualidade da malha viária é esperada com a redução dos gastos públicos

A Rodovia 230 preocupa porque as condições devem se agravar com as chuvas ( Foto: Honório Barbosa )

Fortaleza. Enquanto o Ceará necessita de um investimento em torno de R$ 2 bilhões para expandir e recuperar a malha viária, o Estado termina o ano com menos investimento do que o aplicado em 2015, que foi da ordem de R$ 1,3 bilhão. Das oito rodovias federais que sofreram intervenção neste ano, apenas um trecho foi concluído, que está localizado na BR-402. Com relação as estradas estaduais, o governo investiu quase igual quantia do que ocorreu no ano passado. Em 2015, os gastos com manutenção e expansão somaram R$ 605 milhões. Em 2016, foi um total de R$ 605,6 milhões.

Dados projetam cenário mais pessimista em 2017

. O professor de Engenharia de Transporte da UFC, Heber Oliveira, considera grave o diagnóstico apresentado pela pesquisa da CNT, neste ano, sobre as rodovias no Ceará. No entanto, seu pessimismo é ainda maior sobre o que há de vir. Diante da crise econômica que assola o País como um todo, não há perspectivas de melhorias e incremento dos investimentos num curto prazo. Assim, a malha rodoviária do Estado do Ceará tende a degradar-se numa velocidade cada vez maior.

“A prática da Engenharia Rodoviária confirma que não adianta apenas planejar e construir novas rodovias, como tem sido feito a passos lentos e para situações específicas nos últimos anos. É preciso manter o que já existe. Diante desse cenário, verifica-se a urgente necessidade e importância de uma gestão efetiva sobre a malha existente e as que estão por vir.

Questionamento

Apesar do volume de recursos empregados pelo governo do Estado em 2016 ter sido igual ao de 2015, inclusive havendo uma semelhança no total de quilômetros de estrada recuperados, 650 no ano passado e 667 neste ano, o Departamento Estadual de Rodovias (DER), questionou, por meio de nota, a generalização do quadro viário do Estado, especialmente o apresentado pela pesquisa da CNT.

Ao destacar que os dados apresentados pela pesquisa não abrangem todas as rodovias estaduais conservadas pelo DER, lembra que, dos 7.394,92 quilômetros de rodovias pavimentadas conservadas pelo DER, apenas 1.189 quilômetros, ou seja, 16,07% de rodovias estaduais são analisados pelo levantamento da CNT.

“Levando em consideração que a malha total avaliada pela CNT no Estado do Ceará no ano de 2016 foi de 3.584 quilômetros, compreendendo trechos de jurisdição Federal e Estadual, evidencia-se que apenas 33% das rodovias pesquisadas são de jurisdição estadual, enquanto os outros 67% são de jurisdição federal”, afirma.

Além do fato de que os investimentos estão aquém das demandas cearenses, a expectativa é que 2017 seja ainda mais difícil para aplicação na malha rodoviária. A preocupação de gestores e de acadêmicos é que a limitação de gastos públicos, constante da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 55, que estabelece um teto para os gastos públicos, deverá penalizar ainda mais o setor de infraestrutura, em vista de que o País desponta para que a recessão econômica tenha continuidade.

A defasagem do que se aplica e o que realmente importa para as necessidades do Ceará foi apresentada neste ano com a divulgação da 20ª Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de Rodovias. O levantamento da CNT avaliou o estado geral da malha rodoviária pavimentada de todo o País, considerando pavimento, sinalização e geometria da via. A Pesquisa da CNT percorreu 3.525 quilômetros no Estado. Em todo o Brasil, foram 103.259 quilômetros analisados.

Apreensão

Para o presidente da Associação dos Prefeitos e Municípios do Ceará (Aprece), Expedito José do Nascimento, o esforço que o Estado vem realizado em manter as rodovias em bom estado poderá sofrer grave revés, não apenas pela queda nos investimentos, mas pela possibilidade de que a malha existente sofra graves erosões com a estação chuvosa. Desse modo, ele diz que tanto a Aprece quanto a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estão orientando os novos gestores para que permaneçam mobilizados, no sentido de pressionar o governo federal para que serviços essenciais não sejam prejudicados pela crise econômica.

“Nós lamentamos porque tanto esforço feito pelo governo estadual em expandir a malha poderá ter um forte declínio em 2017. Dentre os pleitos que foram atendidos pelos prefeitos, cita as estradas ligando os municípios de Piquet Carneiro e Senador Pompeu e Acopiara e Irapuan Pinheiro. Em Boa Viagem, há uma estrada que teve seus serviços interrompidos há anos.

Prosperidade

Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Engenharia de Transporte, Francisco Heber Lacerda de Oliveira, o que se faz é muito pouco comparado com a prioridade que deve ser dada à infraestrutura rodoviária do Brasil.

“Nenhuma nação consegue prosperar e apresentar um desenvolvimento socioeconômico satisfatório se não priorizar as políticas públicas para a infraestrutura de transportes. No Brasil, como se sabe, o modo rodoviário é o que predomina no transporte de pessoas e mercadorias, e, por isso, a malha rodoviária deveria receber uma maior atenção. Entretanto, o que se tem percebido, ao longo dos últimos anos, diz respeito à falta de planejamento e à aplicação de investimentos pontuais e insatisfatórios diante da demanda existente”, salienta.

Heber também avalia a relação entre o Custo Brasil e a situação das rodovias. Ele chama a atenção para o dado de que, em 2016, os custos operacionais no Estado do Ceará foram da ordem de 28% (a média nacional é de 25%). Desse modo, usuários e transportadores estão gastando mais e desnecessariamente em seus deslocamentos.

“Como se sabe, rodovias em condições precárias elevam o tempo de viagem, o consumo de combustível e do frete, geram insegurança com o aumento dos acidentes, desconforto ao rolamento dos usuários e perdas de carga ao transportador, além de uma frequência maior de manutenção dos veículos. Assim, à medida que a situação das rodovias torna-se irregular, aumentam os custos operacionais e, por consequência, o Custo Brasil”, ressalta.